terça-feira, 23 de setembro de 2014

Artistas transformam Jesus e Virgem Maria em bonecos Barbie e Ken

Jesus Cristo, São Jorge, Buda e Iemanjá estão entre os 33 símbolos religiosos que ganharam inusitadas versões Barbie e Ken. As obras de arte com jeito de brinquedo fazem parte da série “Barbie – A Religião de Plástico”, dos artistas argentinos Pool & Marianella.
  
Composta por ícones do cristianismo, islamismo, budismo e outras religiões, a coleção será apresentada ao público a partir de outubro em uma exposição no museu e galeria Popa, em Buenos Aires. Muitos religiosos têm criticado o trabalho dos artistas nas redes sociais. Eles apontam para o tom de sátira - e não de homenagem – que as obras carregam.
Na página da dupla no Facebook, eles deixam claro o tom questionador do trabalho. “Em um mundo que nos valoriza por pensar, agir e sentir de forma igual, Marianela e Pool se rebelam, mostrando-se ao mundo de forma diferente. Eles usam o humor para enfatizar a sua desconexão com o universo histórico, político e religioso“, diz a apresentação dos artistas.
Veja algumas obras da série na galeria abaixo:

 
 
 
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

#‎PlanoLGBTnoTOjá‬

Jean Wyllys critica revogação do Plano LGBT no Tocantins e chama deputado Eli Borges de fundamentalista.

A revogação do polêmico Plano LGBT no Tocantins, que foi aprovado pela Secretária de Defesa Social, em 29 de agosto, e revogado no dia 09 de setembro após pressão de líderes evangélicos e segmentos conservadores da sociedade tocantinense, foi criticado em nota na FanPage e em uma série de tweets por um dos ativistas gay mais polêmico do país - O Deputado Federal Jean Wyllys(PSOL-RJ).

Jean Wyllys(PSOL-RJ) é autor do polêmico projeto de lei que propõe que crianças e adolescentes possam entrar na Justiça para conseguir o direito à cirurgia de mudança de sexo caso os pais não concordem.

O deputado e ativista gay teceu, via twitter, uma série de críticas por causa da revogação do Plano LGBT pelo governo do Tocantins, principalmente ao segmento cristão, principal opositor do projeto, sendo estes tachado por ele de "fundamentalistas".

Wyllys começa afirmando que a pauta LGBT não está só no âmbito da disputa presidencial e citou o caso da revogação do Plano LGBT no Tocantins para então começar criticar a revogação do plano e os que não apoiam essa causa do movimento gay.


Usando a hashtag #PlanoLGBTnoTOjá, o deputado carioca alfineta o Governo Estadual por uma suposta contradição ao tenta justificar a revogação do plano: "Além da sociedade civil, as secetarias do Estado do Governo de TO compõem a Comissão que construiu o Plano LGBT. O governo alega que o Plano LGBT precisa ser adequado junto com as secretarias que aprovaram o Plano. Faz sentido?", diz Wyllys.

CRÍTICAS AOS CRISTÃOS e DEMAIS CONSERVADORES

Para o deputado Jean, todos os que são contrários à aprovação do Plano LGBT são "fundamentalistas".

 WYLLYS CRITICA DEPUTADO ELI BORGES


Jean Wyllys (PSOL-RJ) também teceu duras criticas indiretamente ao deputado Eli Borges (PMDB) sem citar nome, chamando-o de fundamentalista. Eli foi o único o único deputado Estadual no Tocantins que usou a Tribuna da Assembleia Legislativa para denunciar a portaria da SEDES.

Na tribuna, Eli Borges afirmou: "Fui surpreendido senhor presidente com a portaria 645 da secretaria de Estado da Defesa Social, que insere nas escolas do Tocantins, a participação e elaboração do material didático do grupo LGBT”.

“A participação na elaboração do material didático, não tem a concordância deste deputado, vivo intensamente o respeito à família tradicional, mais entendo que escola, não deve ser de busca e de pretensões de grupos individualizados”, afirmou Eli Borges.


VEJA O QUE JEAN AFIRMOU 

"Fundamentalistas, incluindo deputados, alegaram que o Plano LGBT "coloca em pânico a sociedade" e "ameaça a família"", diz ele em outro tweet.

Confira os tweets do deputado Jean Wyylys:

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ENTENDA O CASO


Por meio da portaria SEDS/TO Nº 645, DE 26 DE AGOSTO DE 2014, publicada no Diário Oficial do Estado no dia 29 de agosto, o Governo do Estado do Tocantins, aprovou o Plano Estadual de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos - GLBT. De acordo com a portaria, revogada no dia 09 de setembro, a comunidade GLBT iria trabalhar na elaboração e seleção de material didático-pedagógico utilizado nas escolas do Tocantins.

O tema é polêmico, porque há famílias que não querem que os seus filhos tenham matériais com conteúdo voltado para a comunidade gay. O governo Federal tinha aprovado uma tal chamada cartilha gay nas escolas públicas de todo o país, o que gerou revolta instantânea na sociedade.

Após matéria do JM Notícia informando a publicação da portaria, houve pressão de líderes evangélicos sobre o governo questionando o por quê de outros segmentos não terem sidos consultados para elaboração do referido plano.

Depois de 10 dias aprovada e após muitos questionamentos, o Governo do Tocantins voltou atrás e revogou a portaria da SEDS/TO Nº 645, de 26 de agosto de 2014, publicada no Diário Oficial nº 4.203, de 29 de agosto de 2014, que aprovou o plano Estadual de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT.

A justificativa para a revogação, segundo a SEDS, foi a "necessidade de elaboração de portaria conjunta com outros órgãos estaduais relacionados com a temática"
MILITANTES TOCANTINENSES FIZERAM MANIFESTO
Militantes LGBT fizeram um manifesto na manhã do último dia 16 em frente a Secretaria de Defesa Social do Estado (Seds), na Praça dos Girassóis, em Palmas. Com faixas e velas, o grupo protestou o ato de revogação do I Plano Estadual de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT.

Segundo a advogada do Centro de Direitos Humanos de Palmas, Carol Chaves, em reportagem ao Jornal do Tocantins, a revogação foi realizada sem o consenso da comissão LGBT. “Não foi conversado nada, fomos pegos de surpresa. Nós precisamos de uma posição séria do governo, pois quando trabalhamos, fazemos em conjunto com o poder público. A publicação foi um marco de respeito um trabalho de dois anos, já a revogação é um ato de grande desrespeito à comunidade LGBT”, destacou.

Segundo a Secretaria de Defesa Social, a revogação é temporária e foi necessária para que o plano seja readequado. A assessoria de comunicação da pasta informou ainda que hoje será realizada uma reunião com a comissão LGBT para que seja explicado o motivo da revogação.
 




quarta-feira, 17 de setembro de 2014

PNE e a “ideologia de gênero”

Setores conservadores, mobilizados por políticos fundamentalistas, têm se oposto à votação do PNE em razão de sua menção à "igualdade de gênero". Nos termos dos obscurantistas, tratar-se-ia de uma "ideologia de gênero".Mais um motivo apareceu para atrasar a votação do Plano Nacional de Educação (PNE), o qual já deveria estar valendo para o decênio 2011-2020. Um dos projetos de lei mais polêmicos dos últimos anos, o PNE define as metas e as estratégias da educação brasileira para os próximos dez anos, orientando as políticas educacionais em todos os níveis. Primeiramente truncado por conta das disputas em torno dos 10% do PIB (leia aqui), agora é a vez de o gênero entrar nesse balaio de gato. Opositores querem, a todo custo, retirar a assim chamada “ideologia de gênero” dessa lei.
A rigor, o PNE fala pouco sobre gênero. Essa pequena palavra – que abriga um poderoso conceito – consta basicamente em uma frase do projeto de lei. No artigo 2º, voltado para a superação das desigualdades educacionais, há um destaque que acrescenta: “com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Pronto. Esta foi a deixa que o fanatismo religioso, personificado em figuras como Marco Feliciano (PSC-SP) e Marcos Rogério (PDT-RO), precisava para atrasar mais uma vez a votação do projeto.

Críticas de setores conservadores e fundamentalistas têm denunciado a tal “ideologia de gênero”, defendida pelo PNE quando este assume um compromisso com a “igualdade”. Esses grupos temem pela “destruição da família”, os “valores e morais” alicerçados na “lei natural” e, evidentemente, o avanço das pautas LGBT, dentre as quais a diversidade sexual, a criminalização da homofobia e o progresso em torno da despatologização do segmento trans* – pontos, na verdade, que transcendem a escola.
Aqui, voltamos à velha discussão que já vem sendo encampada neste país há décadas. Como cidadãos e cidadãs, temos a infelicidade de ver no poder uma corja de políticos absolutamente descomprometidos com a igualdade, a tolerância, o respeito à diferença e, pasmem, à própria racionalidade. O obscurantismo tem sido defendido à luz do dia, e as imagens que vemos de jovens empunhando cartazes contra a “ideologia de gênero” e, pior ainda, reforçando a violência que é uma definição única e imposta de mulher, homem, família, moral etc, é de chocar.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) tem sido um dos maiores defensores dos avanços sociais nas pautas relativas a gênero e sexualidade.Ignora-se que a igualdade de gênero é tão legítima, necessária e importante quanto à igualdade racial ou regional. Trata-se, pois, de discutir a sub-representação política das mulheres, as desigualdades no mercado de trabalho, a assustadora violência nas ruas e domicílios, a objetificação sexual na mídia, entre outras. Acima de tudo, a igualdade de gênero deve ser um valor democrático, tão legítimo quanto à liberdade religiosa que, diga-se passagem, nunca foi posta em xeque por nenhum setor progressista neste país. Até porque os mesmos grupos que defendem a igualdade de gênero são aqueles que apoiam o Estado laico – a instituição mais democrática no tocante à liberdade religiosa em uma nação multicultural.
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Nesse sentido, gênero é temido porque, de fato, é um instrumento valoroso. Longe de ser um conceito puramente acadêmico, gênero já se incorporou no jargão popular, nos movimentos sociais e nas políticas públicas. Essa rejeição à ideia de gênero reflete um sintoma de uma ordem social que está se sentindo ameaçada – a título de exemplo, casos similares aconteceram na França (leia aqui). Dessa forma, procuram criminalizar não só os indivíduos ditos “diferentes”, como também seus termos, expressões e conceitos que dão voz a essas “diferenças”. Gênero é um deles, mas não o único.
Como já reiteramos inúmeras vezes neste blog, gênero é um artifício teórico, criado na segunda metade do século passado, para designar as construções sociais sobre o masculino e o feminino. Em pouco tempo, o conceito de gênero foi apropriado pelo movimento feminista e se transformou em uma importante ferramenta analítica e política, com a finalidade de desnaturalizar as opressões de gênero, descontruir verdades absolutas e imutáveis sobre mulheres e homens, derrubar as falsas fronteiras que nos demarcam em estereótipos cruéis para os quais somos levados a acreditar desde pequenos, separando-nos em pequenas caixinhas que limitam nossas individualidades, potencialidades e perspectivas.
Portanto, gênero não é uma ideologia. É, ao contrário, a desconstrução de uma ideologia que imputa à natureza, à biologia e supostamente a características inatas dos indivíduos, a carga pesada e histórica de desigualdades entre homens e mulheres, cis ou trans. Os movimentos sociais continuarão a insistir nesse ponto, até que cada resquício de obscurantismo de cunho fundamentalista seja derrubado e possamos, por fim, aprovar um PNE que reflita não só os interesses de uma educação pública de qualidade, como também de uma sociedade que pretende se livrar de desigualdades, violências e opressões – de gênero ou de qualquer outra origem.

O conceito de gênero por Judith Butler: a questão da performatividade

Ainda que se reconheça a importância das construções sociais e culturais na constituição do mundo e dos sujeitos tal como os conhecemos, não são bem sucedidas todas as tentativas de ilustrar o caráter social de estruturas que parecem tão naturalizadas: o corpo, o sexo, as diferenças entre machos e fêmeas etc. Com grande força e ousadia, a filósofa estadunidense Judith Butler traz, de vez, a biologia para o campo do social, motivo pelo qual se tornou um dos principais nomes da atualidade nos estudos de gênero.
Butler, em sua obra Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (2010) publicada originalmente em 1990, partilha de certos referenciais foucaultianos e se pergunta se o “sexo” teria uma história ou se é uma estrutura dada, isenta de questionamentos em vista de sua indiscutível materialidade. Butler discorda da ideia de que só poderíamos fazer teoria social sobre o gênero, enquanto o sexo pertenceria ao corpo e à natureza.

Fazendo uma manobra semelhante à Joan Scott, Butler pretende historicizar o corpo e o sexo, dissolvendo a dicotomia sexo x gênero, que fornece às feministas possibilidades limitadas de problematização da “natureza biológica” de homens e de mulheres. Para Butler, em nossa sociedade estamos diante de uma “ordem compulsória” que exige a coerência total entre um sexo, um gênero e um desejo/prática que são obrigatoriamente heterossexuais.
Em outras palavras: a criança está na barriga da mãe; se tiver pênis, é um menino, o qual será condicionado a sentir atração por meninas. Para dar um fim a essa lógica que tende à reprodução, Butler destaca a necessidade de subverter a ordem compulsória, desmontando a obrigatoriedade entre sexo, gênero e desejo.
Assim, para a filósofa, o conceito de gênero cabe à legitimação dessa ordem, na medida em que seria um instrumento expresso principalmente pela cultura e pelo discurso que inscreve o sexo e as diferenças sexuais fora do campo do social, isto é, o gênero aprisiona o sexo em uma natureza inalcançável à nossa crítica e desconstrução.
“O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado”, defende Butler (2010, p. 25), “[...] tem de designar também o aparato mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos.”

Dessa forma, o papel do gênero seria produzir a falsa noção de estabilidade, em que a matriz heterossexual estaria assegurada por dois sexos fixos e coerentes, os quais se opõem como todas as oposições binárias do pensamento ocidental: macho x fêmea, homem x mulher, masculino x feminino, pênis x vagina etc. É todo um discurso que leva à manutenção da tal ordem compulsória.
E como se daria essa manutenção? Pela repetição de atos, gestos e signos, do âmbito cultural, que reforçariam a construção dos corpos masculinos e femininos tais como nós os vemos atualmente. Trata-se, portanto, de uma questão de performatividade. Para Butler, gênero é um ato intencional, um gesto performativo que produz significados (PISCITELLI, 2002).
Exatamente por isso, Butler tem se tornado uma unanimidade nos estudos de transexuais e travestis: o que são esses grupos senão a subversão de uma ordem estabelecida? O que significa sua ousadia (a qual não exclui uma esfera de sofrimento e marginalização) senão uma performatividade no sentido de ‘chacoalhar’ a coerência compulsória? Ao mesmo tempo, o quanto a performatividade de uma travesti nos mostra que, no fundo, também somos performativos, de que não existe uma natureza masculina em minha pessoa para além dos atos, gestos e signos que reproduzo?
Críticas a Butler, que serão tratados mais adiante no blog, residem, sobretudo, na ênfase demasiada a esse modo de subversão da ordem compulsória: será que precisamos apelar necessariamente aos travestis? De que outras formas podemos desconstruir o corpo? Ainda, cruzar as fronteiras do sexo e do gênero efetivamente subverte a ordem posta? E como entender o corpo: sua materialidade é apenas performatividade? Qual é o estatuto do corpo nessa análise? O sujeito não existe para além de suas práticas?
Para ler mais sobre o pensamento de Butler, clique aqui para acessar um texto sobre a performatividade, e aqui para outro texto sobre a identidade de gênero, ambos de autoria do Lucas Passos. Mais recentemente, publicamos um texto sobre o conceito de “corpos abjetos” da Butler. Para continuar lendo sobre o conceito de gênero por seis autoras feministas, clique aqui para acessar o texto principal.



“A família é a base da sociedade”

A família nuclear completa é um modelo com bastante ressonância social e cultural, sendo parte de estratégias publicitárias, discursos regliosos etc. Aqui, todos são brancos e heterossexuais.Vamos ser sinceros: é muito difícil pensar a nossa sociedade sem a noção de família. Em torno dessa instituição, no sentido mais amplo, rodeiam formas de organização coletiva e social, direitos e deveres, referenciais para os nossos relacionamentos. A ideia da família como base da sociedade não se sustenta apenas no senso comum, mas também é institucionalmente reconhecida, como se vê no artigo 226 da Constituição Federal. Mas de qual família estamos falando? E que implicações teríamos se a noção de família mudasse?
Em primeiro lugar, deve-se contextualizar qual é a noção hegemônica de família. Nem precisaria dizer que se trata das famílias nucleares completas, aquelas compostas de papai, mamãe, filhinho e filhinha (todos brancos, diga-se de passagem). O cachorro, de raça Golden Retriever, é opcional. Longe de ser um referencial neutro, esse modelo familiar reflete uma série de valores: o relacionamento fixo e estável entre duas pessoas de sexos opostos, com vistas à procriação.

Quando digo que este modelo é hegemônico, estou destacando, justamente, a força dos referenciais que, a cada dia, nos informam qual é a ”família ideal” para se alcançar uma boa vida afetiva e sexual, para criar suas crianças, para ter seus direitos garantidos etc. Neste contexto, foi justamente a família nuclear que assumiu o posto de “base da sociedade”, isto é, um centro de estruturação da sociedade, um local de proteção e cuidado por excelência (MEYER, KLEIN & FERNANDES, 2012).
Longe de negar o peso que este modelo familiar desempenha ainda hoje, pretendo demonstrar que a família é um conceito muito mais amplo do que esse. Apesar da CF/88 parecer restrita a respeito disso, uma série de documentos posteriores alargaram tais definições, nos permitindo entender famílias como agrupamentos afetivos de laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, nas quais se organizam relações sociais de geração e gênero e obrigações recíprocas e mútuas. A redação, em si, varia, mas a lição que fica é a seguinte: família não é só um homem e uma mulher juntos com a intenção de ter filhos.
Cada vez mais se tornam visíveis os tipos de família que fogem a essa regra. Primeiramente porque os casamentos têm durado menos tempo, o que joga luz às famílias monoparentais ou recompostas (derivadas de um segundo casamento). Ainda, há de se considerar as famílias extensas ou comunitárias, nas quais o cuidado das crianças é compartilhado entre mais de uma unidade familiar. Por fim, não poderia deixar de mencionar as famílias formadas por casais homo-afetivos.

Para que demandas sociais sejam atendidas, é necessário que novas configurações familiares sejam esperadas e aceitas. Entendendo que todas elas sejam legítimas e possíveis.
Em meio a esses apontamentos, fica a questão: o que está em jogo quando discutimos o conceito de família? Claudia Fonseca (2005) ressalta que existe uma dimensão temporal da família, ou seja, uma mesma família muda ao longo do tempo. Por exemplo: um casal heterossexual se junta e tem dois filhos. O casal se separa e a guarda das crianças fica com a mãe. Ao crescer, um dos filhos resolve morar com o pai. O outro, já mais velho, sai de casa para estudar. Ao se formar, retorna para a casa da mãe. Enquanto isso, o pai casou de novo e teve mais algumas crianças. E assim por diante. Em que momento olhamos para essa família para classificá-la dentro de um determinado modelo? Qual “família” é essa família?
Condições sociais distintas também alteram as configurações familiares. Se antes as/os filhas/os de setores médios casavam mais precocemente, saindo de casa logo aos 18 anos, hoje essa saída é mais tardia, sobretudo com a necessidade de obter um diploma de nível superior. Outros fatores, como o desemprego, também alteram as relações geracionais dentro de casa. Assim, o recorte sócio-histórico das famílias é bastante determinante, basta pensarmos na substituição das famílias numerosas do campo para as pequenas famílias urbanas vivendo em apartamentos, ao menos nos setores médios. Em outros, as mudanças podem ser outras.
Tudo isso para dizer que prever um modelo familiar “adequado” é uma atitude equivocada. As famílias são e sempre foram diversas. Portanto, se ainda hoje considerarmos a família a base da sociedade (seja lá o que isso queira dizer!), devemos reconhecer, no mínimo, que essa é uma base múltipla e instável. Reconhecer isto é o primeiro passo para evitar o proselitismo e a demagogia daqueles que, sob um discurso em prol da “família”, sustentam modelos familiares exclusivos e incompatíveis com as demandas sociais de todos os grupos e sujeitos da sociedade. 

A sexualidade é uma escolha?

Nos debates sobre diversidade sexual, vira e mexe alguém menciona “opção sexual”. Geralmente, esta pessoa é logo corrigida por um/a militante LGBT que dirá que o correto é “orientação sexual”, uma vez que a sexualidade não se trata de uma escolha. Tenho percebido, contudo, que usar a expressão “escolha”, apesar de suas limitações, pode ser uma ótima maneira de encarar a questão.

LegendaAo longo do desenvolvimento do movimento LGBT, certas expressões foram criadas, enquanto outras foram modificadas ou excluídas. Criaram-se conceitos importantes como “homofobia” e “heteronormatividade”, úteis para se entender as relações de poder, ao mesmo tempo em que se ressignificaram termos como “gay” e “queer” para os fins de uma identificação positiva. Outros termos, como “homossexualismo”, caíram no ostracismo por remeterem a uma patologização do desejo homoerótico. Ainda, a ideia de “opção sexual” foi sendo gradativamente substituída por “orientação sexual”.
Diz-se que o desejo sexual não é uma escolha voluntária, consciente ou facultativa, senão algo difuso – que até hoje ninguém soube explicar – que se “orienta” para um determinado sexo, para vários ou para nenhum. Na narrativa romântica, que tanto se mescla com a política, o desejo sexual homo ou bi é legítimo simplesmente porque existe, é natural ou construído tal como a heterossexualidade. O desejo existe, está aí, surge. Estou andando na rua e, pronto, sinto atração por alguém e não tenho controle disso. Alguns vão dizer “nasci assim”, outros vão dizer “descobri-me assim”. Mas ninguém saberá refinar muito melhor do que isso.

Se o conceito de “orientação sexual” é útil, porque dispensa uma explicação sobre a possível origem do desejo sexual, ele também é vago. De toda forma, costuma parecer melhor que a noção de “opção sexual” porque essa afirma categoricamente o lado da escolha, o que todos/as sabemos de que não se trata. Será que não? Não poderíamos chamar a atenção para um campo da “escolha” e da “opção” nesse emaranhado que é a sexualidade?
Legenda
Basta pensarmos o seguinte: o que está em disputa nas pautas LGBT? É menos o desejo do que a prática sexual. Até mesmo os conservadores afirmam que o problema não é o homossexual em si, mas os seus atos. Os pastores fundamentalistas, como Silas Malafaia e Marco Feliciano, assim como o Papa Francisco em sua visita ao Brasil, afirmaram coisa semelhante. Isso é quase um consenso. Quer ser gay, seja. Só não dê bandeira, não assuma (“don’t ask, don’t tell”), não saia com gente do mesmo sexo, não quebre a munheca. Esconda. Evite pensar no desejo homoerótico. Mas, se o fizer, faça-o no seu quarto, sozinho, sem assumir, demonstrar ou praticar.
O desejo sexual está relativamente seguro porque ele, sozinho, não é nada. Sem a prática desse desejo, ele é apenas uma imaginação. E devemos ter em mente que quando falamos de “práticas” estamos falando, sim, de escolhas. Escolhe-se ter uma vida homossexualmente ativa, escolhe-se ter um/a namorado/a, escolhe-se sair do armário, escolhe-se investir numa determinada identidade, escolhe-se enfrentar a homofobia. Ainda que a sexualidade em si – o desejo – não seja uma escolha, tudo que gira em torno dele, dando-o forma e consolidando-o é uma escolha. Trata-se de uma opção, oras!

LegendaE tem mais: falar de “escolhas” dá luz ao protagonismo dos sujeitos. Vai depender de o sujeito querer ser ou assumir-se gay/lésbica dentro de uma sociedade heteronormativa. E haverá consequências. Não quero que as outras pessoas me vejam como um pobre coitado que “nasceu” com determinada sexualidade e cabe às/aos demais me tolerar, aceitar e respeitar. Precisamos exigir mais do que as migalhas desses avanços. A pauta da diversidade sexual há de ter um impacto maior em nossas vidas e na vida social como um todo.
Ao falarmos das escolhas, estamos jogando luz ao que realmente está em disputa. Não é o desejo. São as práticas sexuais, constantemente ameaçadas, ridicularizadas, relegadas a certos guetos, mitificadas. O que está jogo é a nossa liberdade. A liberdade de escolha do que fazer com a sua sexualidade, a liberdade de ter domínio sobre o próprio corpo, a liberdade de expressar o seu desejo. A sexualidade tem que sair do campo da patologia, do essencialismo, da “natureza”, e cair de vez na esfera dos direitos humanos, das liberdades civis e das livres escolhas, como realça Rogério Diniz Junqueira (2009).
Por isso tenho preferido usar o termo “escolha” para me referir à sexualidade. Pois as escolhas são incontornáveis e a atração sexual é apenas uma parte disso, mas não é o que está sob ameaça e nem o que realmente tem o potencial de transformar as relações de gênero e a sexualidade em nossa sociedade. Para mudá-las, precisamos assumir que estamos escolhendo outra maneira de encarar a diversidade sexual tal como escolhemos o caminho da transformação. E que ao assumir nossas escolhas, assumamos nossos riscos e ganhos.

Plano LGBT Palmas/TO

PALMAS - TO -  A comunidade LGBT  - (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) realizaram nesta terça-feira, 16, manifestação após a portaria da SEDS/TO Nº 645, de 26 de agosto de 2014, ser revogada após pressão política de parlamentares e de lideres evangélicos do Tocantins. A referida portaria, tinha aprovado o Plano Estadual de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT. Após a publicação, o ato do secretário causou a fúria de pais e lideres evangélicos do Tocantins.

De acordo com a portaria, a comunidade GLBT iria trabalhar na elaboração e seleção de material didático-pedagógico utilizado nas escolas do Tocantins. Na tribuna da Assembleia Legislativa, o deputado Eli Borges condenou a portaria e pediu a revogação da portaria.


Crédito: Bonifácio T1 Notícias

A manifestação da classe LGBT que é minoria no Tocantins, quer que o governo do Tocantins, republique a portaria mesmo sem consultar a sociedade, que em sua grande maioria, é contra a promoção do homossexualismo nas escolas do Tocantins.
Para Mariana Rodrigues, articuladora da Liga Brasileira de Lésbicas e membro da Comissão Estadual, que discutiu e elaborou o Plano Estadual LGBT, o ato foi organizado com o propósito de chamar a atenção da Secretaria de Defesa Social, de forma a abrir espaço para o diálogo.

“Não entendemos o porquê da revogação do Plano. A Seds nos atendeu prontamente, o que faz da nossa manifestação uma ação produtiva, mas não aceitamos o argumento de que é preciso fazer adequações. Esperamos quatro meses para que as Secretarias fizessem essas adequações e agora eles dizem que ainda não foram feitas? Não aceitamos esse argumento”, destacou Mariana.

Ao JM Notícia, o presidente da Ordem de Pastores do Tocantins, Carlos Roberto, afirmou que o governo não pode beneficiar grupo "A ou B" em detrimento da maioria. Já o vereador Joel Borges, disse que não há nada contra a classe LGBT, mais que é necessário discutir amplamente essa portaria, tendo em vista, que envolve pais e crianças em geral.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Modelo gasta R$ 114 mil para se parecer com uma boneca inflável

A modelo francesa Victoria Wild, 30 anos, gastou aproximadamente £ 30 mil (R$ 144 mil) em rinoplastia estética – cirurgia para correção do nariz -, implantes labiais permanentes, implantação de Botox no rosto, além de plásticas para aumentar os seios. Tudo isso para se parecer com uma boneca sexual inflável.
A modelo bancou a sua transformação a partir do seu salário juntamente com a ajuda financeira de seu namorado. “Quem não gostaria de ser tratada como uma boneca sexual? É um olhar tão sexy”, perguntou durante entrevista ao tabloide britânico The Daily Mail.
Victoria conta que sua obsessão para se parecer com o objeto começou durante sua adolescência. Quando começou sua carreira como modelo de beleza, aos 20 anos, ela realizou sua primeira cirurgia estética. Com o dinheiro economizado do trabalho, ela fez inseriu silicone nos seios.
montagem
Aos 25 anos, a francesa conheceu o seu namorado Simon, um empresário italiano que incentivou o seu sonho de se transformar em uma boneca inflável. “Simon ama meu olhar inspirado no objeto. As pessoas olham para mim na rua e homens simplesmente me adoram”, revelou ao The Daily Mail.
Em 2011, Victoria passou por mais três operações para atingir o tamanho desejado dos peitos. Em 2014, realizou a rinoplastia para deixar o nariz com uma estética menor e mais fina. Também aplicou implantes labiais e Botox.
A busca pela ‘perfeição’ estética e física tem levado milhares de pessoas a se submeter a caríssimas cirurgias. A pergunta que fica é: até que ponto essas transformações são saudáveis para o corpo humano e a própria autoestima da pessoa?
Talvez, a resposta esteja no futuro da vida desses indivíduos que se espelham em bonecas com padrões de beleza já pré-definidos pela mídia e a sociedade.
 

A trajetória dos trajes de banho nas praias cariocas

Um mergulho no Rio – 100 anos de moda e comportamento na praia carioca' traz depoimentos de Monique Evans e Luiza Brunet, entre outras.

Moças e um rapaz na praia de Copacana 1919 - Revista da Semana (Foto: Divulgação)
Banhistas na praia de Copacabana, em 1919:
mulheres de vestido e touquinha e homens de macaquinho
(Foto: Revista da Semana/Divulgação)
 
O biquíni, quem diria, foi inventado por um francês, Louis Réard. Em 1946, ele apresentou uma calcinha em formato triangular, que deixava quadril e umbigo de fora. Foi logo batizada de biquíni, em referência ao atol Bikini, no Oceano Pacífico. Essas e outras histórias estão no livro “Um mergulho no Rio – 100 anos de moda e comportamento na praia carioca” (Casa da Palavra, 360 páginas, R$ 80), da jornalista Márcia Disitzer, que mostra a evolução dos trajes de banho nas areias cariocas - há fotos desde 1919, quando as mulheres ainda iam à praia de vestidos e touquinhas.
Moda da praia Ipanema - 1950 - o Cruzeiro  (Foto: Divulgação)
A moda na praia Ipanema, em 1950
(Foto: O Cruzeiro/Divulgação)
E se é o Rio que dita a moda que estará nas praias de todo o país, já era assim em 1948, quando a alemã Miriam Etz apareceu com um biquininho na praia do Diabo, na Zona Sul da cidade. “O biquíni não foi uma moda que pegou de imediato. Exigiu um tempo de maturação de ideais, de absorção de novos conceitos, de revisão de comportamentos. Antes que emplacasse de vez, foi precedido por maiôs feitos sob encomenda, modelados em cetim, algodão ou brocado, arrematados com elásticos. Os de duas-peças traziam detalhes, estampas, franzidos, laços, babados e saiotes. Avançava-se nas cavas e nos decotes, sempre um passo de cada vez”, diz a autora no livro.

A obra relembra a trajetória dos biquínis e das musas do verão carioca, como Monique Evans e Rose di Primo, na década de 70. “Fazia meus próprios biquínis. Lembro-me de alguns modelos que criei, calcinha de chita e sutiã de couro e crochê. Nunca usei biquíni baixinho, sempre gostei de usar as laterais para cima, por achar que o corpo da mulher fica mais alongado assim”, conta Monique na obra.

Rose, que ganhou fama ao posar de biquíni em cima de uma moto na capa da revista “Manchete”, diz que sem querer inventou o modelo de lacinho. “Depois de passar muito tempo tentando subir o biquíni de elástico pernas acima, inovei e fiz uma calcinha com umas tiras para amarrar. Sem querer, bolei o biquíni de lacinho. Quando desci em Ipanema usando esse modelo, foi um escândalo, teve gente que saiu de perto de mim”.
Magda Cotrofe posa para anuncio de moda praia (Foto: Divulgação)
Magda Cotrofe em anúncio de moda praia, nos
anos 1980 (Foto: Divulgação)
Musas dos anos 1980, Luiza Brunet e Magda Cotofre também deram relatos. “Na década de 1980, usei biquíni asa-delta e até o fio dental, com aquele fiozinho no bumbum, sem o menor preconceito. Os modelos eram em tons cítricos. Todo mundo usava”, diz Luiza. “Era o mínimo do mínimo e eu usei direto”, conta Magda, sobre os biquínis minúsculos que usava na mesma época. “Além do fio dental, lembro-me de usar acessórios marcantes, como viseiras e bijus de acrílico, dos tons fluorescentes, e até de um macaquinho de lycra de duas cores que fazia as vezes de saída de praia”.

Além das curiosidades históricas e dos depoimentos de quem marcou os verões cariocas no último século, o livro traz textos assinados por personalidades como o autor Ruy Castro e a chefe Flávia Quaresma.
 

Plano Estadual de Políticas Públicas para população LGBT / TO

Link permanente da imagem incorporada
Plano de Políticas Públicas LGBT do Tocantins foi revogado, ajude divulgar nosso Ato c/ a
hastag: #PlanoLGBTnoTOjá http://t.co/VuIivwaApE"
Desde 2012 a população do estado do Tocantins constrói o Plano Estadual de Políticas Públicas para população LGBT, dez dias após sua aprovação o atual governador revogou o nosso Plano.
  Homofobia Mata! Ato contra a revogação do Plano Estadual de Políticas Públicas para população LGBT do Tocantins
  Não vamos deixar que essa luta seja silenciada!
Informes sobre o ato de amanhã:

Serão dois momentos: a vigília pela manhã e tarde na Secretaria Estadual de Defesa Social, e às 17H caminhada e ato na Teotônio.

- Concentração e organização da vígilia às 07h.
- Início da vigília às 08h
- Ideia do ato: CAMISETA PRETA e VELAS simbolizando luto pela comunidade LGBT; MAQUIAGEM E PINTURAS CORPORAIS simbolizando marcas da violência; CA
RTAZES para informar, conscientizar, sensibilizar e manifestar a nossa indignação. Logo, se vocês puderem, levem o que puderem para ajudar na montagem. NÃO ESQUEÇAM DE ÁGUA

- Segundo ato: Concentração às 17h ainda na SEDS (Secretaria Defesa Social).
- Caminharemos até as secretarias de Educação e Segurança Pública, e faremos uma parada
- Daqui caminharemos até o Semáforo da rotatória entre a Secretaria de Segurança e o Palmas Shopping para continuar o protesto.

OBS.: É MUITO IMPORTANTE QUE A COMUNIDADE LGBT SE EMPENHE EM PARTICIPAR DESSE ATO PARA MOSTRAR FORÇA E NOSSA INDIGNAÇÃO E INSATISFAÇÃO COM ESSA DECISÃO ARBITRÁRIA DO PODER PÚBLICO. VÁRIOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO ESTARÃO NOS ACOMPANHANDO DESDE ÀS 8H DA MANHÃ. AGUARDAMOS VOCÊS!
 
 

Inscrições abertas!

Bebê terá duas mães, um pai e seis avós registrados em certidão

Maria Antônia é a primeira criança a ter na certidão uma família multicomposta

       
O 1º Cartório de Registro Civil de Santa Maria (RS) registrou esta semana uma recém-nascida com duas mães, um pai e seis avós. Maria Antônia é filha do casal homoafetivo Fernanda Batagli Kropenski, de 26 anos, e Mariani Guedes Santiago, de 27. O seu pai, Luis Guilherme Barbosa, amigo do casal ajudou na concepção e tem o nome no registro da criança.
O juiz Rafael Cunha salientou que essa criança terá desde o nascimento o reconhecimento de um “ninho multicomposto”. Por ser uma decisão inédita, o cartório precisou adaptar o sistema de registro para que o documento pudesse contar com nove nomes. Mostrando assim a diversidade das famílias.
 



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Revista de moda publica ensaio com crianças em poses sensuais

“Muitas vezes quando pensamos em pedofilia imaginamos um tio pervertido ou em um cara se escondendo atrás de um computador, ou de algo escondido, secreto. Mas a gente não fala de uma cultura de pedofilia, que está exposta diariamente, onde a imagem das crianças é explorada de uma forma sexualizada.”
O depoimento acima é da roteirista carioca Renata Corrêa, umas das primeiras a criticar publicamente a revista Vogue, que apresentou na edição deste mês, uma sessão de fotos com meninas, certamente menores de 18 anos, em poses sensuais, vestidas com biquínis. “Papetes são febre atual na moda adulta e invadem o guarda-roupa infantil ao lado de tricôs levinhos, camisaria, jeans e meias”, diz parte do texto de abertura. No Facebook, o assuntou gerou muitas críticas.  Um post da página Pediatria Integral recriminando a revista recebeu mais de 6 mil compartilhamentos.
crédito: reprodução
crédito: reprodução
Meninas em poses sensuais.

O ensaio “Sombra e Água Fresca” já foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo e à Polícia Federal nesta última quinta feira, dia 11. O Instituto Alana, organização que mobiliza a sociedade para os temas da infância, é um dos denunciantes. Em seu projeto “Criança e Consumo”, o Alana visa conscientizar sobre os impactos da publicidade dirigida às crianças.
“Alguns podem dizer que é exagero. Que é pelo em ovo. Eu digo que enquanto a gente continuar a tratar nossas crianças dessa maneira, pedofilia não será um problema individual de um “tarado” hipotético, e sim um problema coletivo, de uma sociedade que comercializa sem pudor o corpo de nossas meninas e meninos”,  afirma Renata, que é mãe de uma menina de 2 anos.
Resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes), órgão ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, proíbe a propaganda direcionada para crianças. Entenda aqui a resolução. O blog Maternar procurou Vogue, que informou ainda não ter sido notificada sobre o assunto.

Disponívelhttps://catracalivre.com.br/geral/catraquinha/indicacao/revista-de-moda-publica-ensaio-com-criancas-em-poses-sensuais-mp-pode-ser-acionado/ em: 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Androginia | Definições ao termo e sobre ser e estar andrógino

A Androginia é um fato e termo antigo, tendo entre suas primeiras citações, na obra O Banquete, de Platão. Aristófanes cita três gêneros (grifo meu):
[...] três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa;andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino [...] e tal a sua constituição, porque o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores.”
Definições quanto ao ser andrógeno não faltam, vindo desde aspectos da biologia, sociologia, do próprio dicionário, dentre tantas outras fontes provindas das ciências, artes e relatos pessoais.
Um problema que sempre tive quanto ser andrógeno foi ao tentar explicar tal fato. Existe certa cultura, certo preconceito e definição quanto a pessoas que são andrógenas – limitando-as aos padrões estéticos provindos do mundo da moda e, a certas definições: “se você é andrógeno, porque você tá vestido “completamente” de “menino” agora?”.

Entre ser e estar existem diferenças. Tem-se o direito de ser livres, de vestir-se aquilo que queremos e, principalmente, vestirmos nossa personalidade, nossas vontades, desejos – não são apenas traços biológicos que definem a nós e muito menos são as roupas e acessórios que dizem isso.
Posso estar eu, nesse momento, vestido, como dizem – “de menino” – mas o meu ser, minha pessoa, meus sentimentos, estão femininos, me sinto nesse momento preponderante emocionalmente a aquilo que considero feminino. Entre ser e estar podem estar ambos em diferenças gritantes, mas eu, como ser humano, em um todo, estou contemplando-me em ambos.

“Ah, mas então você é bigênero?” “Ah, se bem que então seria uma questão mais de ser agênero…” “Espera mas… isso não seria mais pra “normal” que andrógeno?”.
São diversos questionamentos, são diversas definições – são sim termos que facilitam para as pessoas que se sentem diferentes, dos padrões normativos patriarcais, a se sentirem contempladas, situações que se encaixam do modo que se sentem.
A sociedade possui diversas caixas, dentre essas padronizadas, em algumas poderá se encaixar, em outras não: quando não encontrar a sua – tenha a liberdade de criar outras e se encaixar nelas.

Mas vale o ressalto que, quem define e cria essas caixas é a pessoa na qual se sente de forma “diferente” daquilo proposto por uma sociedade – em momento algum são as pessoas ao seu redor que as definem. O papel como indivíduo, pessoa, ser humano, como parte de uma sociedade, é apenas de respeitar o seu próximo, aceitando-o a partir daquilo que o mesmo diz que é e se sente.
Se faz a partir daquilo que a pessoa pensa, e não daquilo que você pensa.
O que mais vejo diariamente são futuros intelectuais, pessoas aparentemente, já intelectuais, teóricos, médicos, gurus, e curiosos de plantão querendo encontrar a definição perfeita para determinada pessoa – sendo que a melhor definição que ela possa dar para alguém é a de respeito.
Como gosto de pensar: quem sabe e cuida da vida de alguém, é ela mesma – aceita, dói menos.
E dói mesmo.

O nao-binarismo e a performance de genero


A fotógrafa Chloe Aftel decidiu fazer um ensaio registrando o dia-a-dia de alguns jovens não-binários, após uma dessas pessoas, Sasha Fleichman, ter sofrido uma agressão que virou notícia pelo mundo. Enquanto dormia no ônibus, voltando da escola, tentaram atear fogo em seu corpo. Sasha foi hospitalizadx e apresentava queimaduras graves.
Micah: “Bonecas são para meninas, carrinhos são para meninos e quebra-cabeças são neutros. Meu gênero é um quebra-cabeça”.

Edie na casa dos pais de seu namorado, em Berkeley.

Emma, 20 anos: “Eu acho que um monte de gente gostaria de ver o gênero como esta escala de azul e rosa. Eu nunca me identifiquei realmente com algum os lados. É muito mais complicado – minha identidade varia muito num determinado dia”.

Sarah Levine, uma das pessoas mais próximas de Sasha, diz que o mundo ideal seria onde o gênero não importasse – onde o tipo de pessoa que você é fosse o mais importante.

Marilyn, 24 anos, não se sente nem como homem nem como mulher, e se denomina apenas adultx.

Mark em seu apartamento em São Francisco. Usa roupas masculinas e femininas.


Rain, lida como menina ao nascer, com 24 anos é modelo profissional posando para artigos masculinos.

Para entender um pouco a vida desses jovens, o peso de sua auto-identificação e a razão para tamanhas hostilidades, é necessário que nos aprofundemos no cerne da causa. Para isso, podemos levantar questionamentos através de análises da Teoria Quee, que sugere que gênero é uma construção social complexa, modelada e reinventada incessantemente por subjetividades atuantes, não havendo papeis sexuais biologicamente determinados – mas sim, imposições sócio-culturais sobre os corpos, formando a noção de gênero. A maleabilidade do gênero aponta para a própria complexidade do ser e – ainda além – do ser social e das estruturas sociais que o abrigam e que atuam sobre ele.
Afinal, o que é gênero? A ideia comum é do sexo como o biologicamente definido (órgãos femininos ou masculinos); gênero como atribuições socioculturais referentes ao sexo (o que é ser ‘homem’ ou ser ‘mulher’); e identidade de gênero como a auto-afirmação do indivíduo nesse espectro, a principio binário, compulsoriamente designado pela sociedade. Atualmente, essa coerência compulsória se apresenta quando, ainda na barriga da mãe, assim que constatado que o bebê tem genitais masculinas ou femininas, uma série de papeis de gênero começam a se manifestar: “rosa para meninas, azul para meninos”; “boneca para meninas, carrinho para meninos”; papeis que com o crescimento ramificam-se, agravam-se.
Mas afinal, o sexo, o corpo, apresenta-se somente como o ‘biologicamente definido’? O quanto ele atua e o quanto ele é modificado pelas atribuições sociais de gênero? Sexo e gênero não podem ser independentes entre si?
Como o gênero, tão abstrato, se materializa no meio social? Como os papeis de gênero são perpetuados, fiscalizados e controlados nesse meio? A teoria de gênero atende a todas as formas de auto-afirmação existentes? A auto-afirmação de gênero dentro dessa teoria contemplaria os indivíduos que se auto-identificam dentro da própria atribuição binária (como os transsexuais e transgêneros), embora contrariem o gênero que lhes foi compulsoriamente designado ao nascer? Mas e quanto àqueles que se identificam com os dois gêneros? Mais complexo, e aqueles que não se identificam com nenhum?
Com os estudos de Judith Butler, filósofa estadunidense com grande aceitação no feminismo contemporâneo, a noção de gênero foi desarticulada em uma nova face: a performatividade. Diante disso, podemos entender um pouco melhor a identidade das pessoas não-binárias – pessoas que rejeitam as atribuições binárias (ser ‘homem’ ou ‘mulher’) de gênero.
Sasha Fleischman: foi agredidx em um ônibus por usar roupas consideradas socialmente como de ambos os gêneros. Na foto, Sasha havia acabado de voltar do hospital.

A inovação conceitual da teoria de Butler que nos permite entender melhor o não-binarismo reside na noção de “performance de gênero”. Parafraseando Simone de Beauvoir com “não se nasce mulher, torna-se uma”, Butler apresenta o gênero como uma realização performativa compelida pela sanção social. O corpo atuaria na reprodução de signos, na repetição estilizada de atos que constroem e corroboram noções previas de gênero. Para Butler, o corpo é vulnerável a esses signos, no sentido de que há signos, como a linguagem, que são performativos – operam, fazem -, enquanto o corpo é feito e efeito, sustentado e ameaçado por ela.
Butler remete muito à atuação performativa da fala e da linguagem, afirmando que o ato de fala obriga o corpo a espaços de inteligibilidade (leitura social), regulação e de legitimação.
“O corpo, efeito do ato de fala e do seu ritual, encontra um lugar epistemológico (através do ato de fala, o corpo torna-se inteligível), um lugar ontológico (o corpo torna-se regulável) e um lugar político (o corpo torna-se passível de legitimação e normatização). Os atos de fala limitam os contornos dos corpos, suas articulações possíveis, suas ações possíveis. A imposição arbitrária num ritual iterável tem como efeito a fixidez e a inevitabilidade.”
Assim, para a filósofa, o gênero não atua somente atribuindo sanções culturais aos corpos sexuados – mas também aprisiona o sexo em uma natureza inalcançável à nossa crítica e desconstrução. Seria pela repetição de atos – gestos e signos – e sua inserção no âmbito cultural, que se construiriam as percepções dos corpos masculinos e femininos tal como os vemos atualmente, e as noções de gênero. Para Butler, gênero é um ato intencional, um gesto performativo que produz significados.  (PISCITELLI, 2002).
Mas o que isso tem a ver com as pessoas não-binárias?
É na característica performativa que reside a possibilidade de contestação. E é esse o papel dos não-binários.
As pessoas não-binárias contrariam uma das (muitas) normas de gênero que impõe que:
“As pessoas são ou exclusivamente mulheres, ou exclusivamente homens.”
Contrapor o binarismo, ao mesmo tempo em que fazendo uma performance de ambos os gêneros (através de signos visuais, como a roupa, ou outros signos performativos, como a modificação na linguagem), é atingir a estruturação compulsória de gêneros em seu cerne. As pessoas trans subvertem a ordem compulsória entre sexo, gênero e desejo; ordem que, segundo Butler, talvez com inspirações foucaultianas, produziria uma falsa noção de estabilidade, ligada a uma matriz heterossexual, cobrando, compulsoriamente, essa ‘coerência’ entre gênero, sexo e desejo – hetero e ‘cis’normativa.
Baseados nos estudos de Butler, alguns professores americanos pensaram em uma dinâmica de análise da performance de gênero. A atividade era muito simples: o professor ou professora se colocava diante da turma e pedia que os alunos questionassem quão bem ele ou ela desempenhava o papel do gênero em que eles os liam. O objetivo era analisar as características “femininas” (tidas como femininas para a sociedade) e as “masculinas”. Os relatos são de que muitas percepções inusitadas foram apontadas: desde o cabelo “Joãozinho” da professora, tido como masculino, até a sua eloquência e articulação, tidas também como características masculinas. O resultado permitiu a eles uma análise profunda da leitura de gênero da sociedade, além do efeito da reprodução de signos condizentes às atribuições sociais de gênero. A construção social de gênero se materializa na performance individual de gênero.
A existência de identificações não-binárias, além de essencialmente contestadoras, nos leva a fortes questionamentos quanto à estrutura de gênero que ‘rege’ a sociedade. Como demonstrado pela dinâmica dos professores, dificilmente algum indivíduo corresponderá a todos as características consideradas inerentes ao gênero que lhe é designado. Nenhuma ‘performance de gênero’ é perfeita. Se o indivíduo “escolhe um gênero que lhe é mais próximo daquilo que sente que é enquanto ser-no-mundo”, se as noções de gênero aprisionam nossos corpos e limitam nossa subjetividade, e se nem pessoas trans (que não se identificam com o gênero que lhes foi compulsoriamente designado ao nascer) e pessoas cisgêneras (que se identificam com esse gênero) são perfeitamente contempladas por essas noções de gênero, por que elas existem? A reação popular à auto-afirmação de pessoas como Sasha nos leva a constatar quão normativo é o gênero – e o quão nocivo pode tornar-se.

Gênero na infância:o caso de Ryland


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O menino Ryland Whittington, de seis anos, já foi uma menina. Aos cinco anos, seus pais, vendo que ele realmente se identificava como menino, apoiaram a transição de gênero, retratando a sua história no  emocionante vídeo que pode ser visto Aqui:
“Mas como uma criança sabe o seu gênero? Será ele diferente do seu sexo? Isso é coisa de liberal/esquerdista/petralha/insira outro nome semelhante aqui”, muitos disseram. “Antigamente não tinha nada disso não. Menino era menino, menina era menina!”
Mas o que define o gênero? A genitália, a preferência sexual, o modo de vestir, o indivíduo? O que te faz ser homem ou mulher? É possível ser os dois? E nenhum? Há uma resposta certa para essas perguntas?
Como o autor Pierre Clastres nos mostra em seu fascinante “O Arco E O Cesto”, não são todas as sociedades que tem essa união tão rígida entre sexo e gênero.
Clastres viveu dentre os índios Aché (por ele chamado de Guayaki, mas hoje sabemos que esse é um termo derrogatório) no Paraguai. Para essa tribo, o gênero é definido pela profissão: Se você caça, é homem, se cuida da casa, é mulher. Isso define suas companhias, seus rituais, modo de vestir e opção sexual. Um homem poderia se tornar mulher se renegasse ou perdesse seu arco, virando um panema, uma mulher.
“Os homens só existem como caçadores, e eles mantêm a certeza da sua maneira de ser preservando o seu arco do contato da mulher. Inversamente, se um indivíduo não consegue mais realizar-se como caçador, ele deixa ao mesmo tempo de ser um homem: passando do arco pro cesto, metaforicamente ele se torna uma mulher.”
Nessa sociedade, o gênero é dado pelo instrumento. Se um homem tocar acidentalmente num cesto, ou usá-lo por alguns minutos, ele se torna mulher pelo resto da vida. A mesma coisa para uma mulher. Então Clastres nos mostra como isso acontecia, mostrando dois panema, Chachubutawachugi e Krembégi.
Chachubutawachugi era viúvo e perdeu seu arco. Não escolheu ser mulher, isso lhe fora imposto. Reclamava, era caçoado, xingado, desrespeitado.
Krembégi, por outro lado, nunca usou um arco. Sempre foi panema, usava o cabelo comprido, vivia com as mulheres e gostava desse jeito de vida. A tribo o aceitava como mulher e o tratava feito uma.
Chachubutawachugi não se encaixava em nenhum papel social da tribo. Não era homem nem mulher, era um elemento que demonstrava a falha do sistema social. Krembégi, por aceitar ser mulher, mas desempenhar as funções de uma, era tido como normal e aceito.
Parece insano que alguns objetos definam toda uma sexualidade, não? Mas nossa sociedade é assim. Temos nossos papeis sociais, o que define um homem e uma mulher. O homem tem que ser macho, beber com os amigos, jogar futebol, usar calças e ‘pegar’ várias mulheres. A mulher tem que ser feminina, ficar em casa, cuidar da família, se depilar e usar saias. Qualquer um que não se encaixe nesses padrões começa a entrar no território do estranho, desconhecido. A diferença é que nós não podemos mudar de lado, pois, segundo a sociedade, o objeto principal que define nosso gênero já vem de fábrica.
Mas há esperança. Tem gente lutando. Desafiar esse sistema é difícil. Ser um Chachubutawachugi é muito difícil, e não só por ter que soletrar o nome toda hora pelo telefone. As taxas de suicídio entre jovens transgêneros é de 41%, pois além da pressão social, eles sofrem com a dúvida sobre se o que estão fazendo é errado e, muitas vezes, ficam sem o apoio da família.
Por isso aplaudo de pé esses pais que apoiam e defendem o filho. Ele não será o Chachubutawachugi, mas sim o Krembégi. Não terá a dúvida interna, terá em si próprio e na família um aliado, e esse é um excelente começo.

Referências:

Disponível em - http://causasperdidas.literatortura.com/2014/08/30/genero-na-infanciao-caso-de-ryland/