Menos de 1% dos professores
que atuam na Educação Infantil – com crianças com idade entre zero e 5
anos – na rede municipal de ensino do Grande ABC são homens. A grande
maioria dos educadores que lidam com essa faixa etária de aprendizado, a
primeira etapa da Educação básica, é mulher – 5.626 no total,
espalhadas por cinco das sete cidades da região.
São várias as explicações para a disparidade observada em
todas as cidades. A primeira delas é o aspecto cultural, explica o
secretário de Educação de São Caetano, Daniel Contro. “Geralmente o
professor homem tem mais dificuldade de trabalhar com essa faixa etária
porque, culturalmente, a tarefa de cuidar dos filhos, como trocar
fraldas, é da mãe”, diz. Na cidade, por exemplo, são 400 professoras neste ciclo escolar e nenhum homem.
Diadema é o município com maior quantidade de homens lecionando na
Educação Infantil – 18 professores. Em contrapartida, são 915
professoras. Na cidade vizinha, São Bernardo, a rede de ensino
direcionada a crianças entre zero e 5 anos tem 2.120 docentes mulheres e
apenas 12 homens. Já Santo André apresenta quadro de oito educadores e
691 educadoras. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não responderam.
É importante
destacar que não há restrição para que homens sejam contratados para
exercer cargos na Educação Infantil dos municípios, tendo em vista que a
seleção dos profissionais ocorre por meio de concurso público. De
acordo com o secretário de Educação de Santo André, Gilmar Silvério, é
notado crescimento no número de homens que se inscrevem para pleitear a
carreira nos anos iniciais do magistério nos últimos anos. Para ele, a
mudança mostra vitória em relação a preconceitos, identidade e questões
de gênero.
BENEFÍCIOS
BENEFÍCIOS
A presença de educadores homens no primeiro ciclo da Educação Básica é
fundamental para que as crianças passem a ter referência masculina em
seu dia a dia, explica Contro. “É curioso o fato de que as crianças têm
convivência mais intensa com mulheres nesta fase da vida, seja em casa,
porque ficam com a mãe, empregada ou babá, ou na escola, com
professoras. É importante que elas aprendam que o universo feminino não é
o único existente”, destaca.
Amor à profissão e aos alunos é capaz de superar preconceitos
“Para as crianças pouco importa se o professor é homem ou mulher”,
destaca o educador do Ensino Infantil da rede municipal de Santo André,
Fernando Detognin, 54 anos. Apaixonado pela profissão e pelos alunos, o
educador revela que o preconceito geralmente é revelado por parte dos
pais das crianças. “Eles têm medo que a gente seja bruto com os alunos e
tem receio de pedofilia”, comenta.
Apesar de sempre gostar de crianças e dar aulas de reforço para
colegas quando era estudante, a formação inicial de Detognin foi
Educação Física. O magistério apareceu por acaso, após prestar concurso
para atuar como monitor em creche. “Foi ali que vi a necessidade de
fazer Pedagogia”, comenta o educador, que se especializou em Educação
Infantil na USP (Universidade de São Paulo).
Na sala de aula, as diferenças entre homens e mulheres não interferem
no aprendizado, garante Detognin. “Acho que as mulheres são mais
detalhistas e mais mães dos alunos. Os homens já são mais práticos e
trabalham o diálogo e a organização coletiva.”
E, de fato, para as crianças não há diferença pedagógica em ter
professores homens ou mulheres. “Os dois são iguais para dar bronca, mas
a prô mulher grita mais e o prô homem fala baixo”, considera a pequena
Isabela Taketo, 5 anos, aluna da Emeief Airton Senna da Silva, em Santo
André.
Estudante de Pedagogia planeja carreira com crianças
Diferentemente da maior parte dos colegas de sala, o estudante do 5º
semestre do curso de Pedagogia da Anhanguera UniABC Daniel Terentim
Baseggio iniciou o segundo curso superior porque deseja trabalhar na
Educação Infantil.
Depois de se formar em Filosofia, o estudante diz que se viu
influenciado pelo criador da psicanálise, Sigmund Freud, a atuar com
crianças. “Acredito que meu interesse é mais pelo lado terapêutico. Além
disso, não vejo dificuldade em lidar com os pequenos, como a maior
parte das pessoas tem”, garante.
Para ele, a criança, que já está acostumada com a figura feminina
busca no professor homem a aprovação masculina. “As crianças não
apresentam um padrão, cada uma traz consigo uma característica familiar e
isso é muito interessante”, completa o estudante.
Os alunos mais novos, que ainda estão na primeira etapa da fase
escolar, geralmente são mais ativos e têm necessidade maior de se
relacionar afetivamente com as demais crianças, explica o filósofo e
participante de projeto de iniciação científica da instituição.
“Acredito que os professores acabam aprendendo com as crianças”, diz
Baseggio.
Para ele, o educador é peça fundamental para que o aluno consiga se sociabilizar e se desenvolver futuramente.
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