quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Como é ser menina no Brasil

Como é ser menina no Brasil?
 
 
Por incrível que pareça, a resposta é: “não é fácil”. Nem bem a menina começa a se socializar, já vivencia os problemas da desigualdade de gênero que afeta o seu desenvolvimento. Pelo menos é o que indica uma pesquisa recém-divulgada e que vale a pena você, profissional da Primeira Infância, conhecer.
 
A pesquisa inédita “Por ser menina no Brasil: crescendo entre direitos e violências”, realizada pela ONG internacional Plan, que atua para garantir os direitos da criança, traz dados bem preocupantes.
Um deles é que a tal expressão “jornada dupla”, que muitas mulheres vivenciam, especialmente depois de ter filhos (trabalham fora e precisam dar conta das atividades domésticas), já é praticada na infância.
Das 1.771 meninas ouvidas, entre seis a catorze anos, nas cinco regiões do País, 81,4% revelaram que arrumam a própria cama, tarefa que só é executada por 11,6% dos irmãos meninos; 76,8% lavam a louça e 65,6% limpam a casa versus, respectivamente, 12,5% e 11,4% dos irmãos que fazem essas tarefas.
O cenário do estudo contou com vários contextos e pode avaliar como eles interferem nessa desigualdade. Verificou-se, por exemplo, que o trabalho doméstico das meninas é mais presente na zona rural (74,3% delas declararam limpar a casa) do que no meio urbano (67,6% para meninas de escolas públicas urbanas e 46,6% das alunas de escolas particulares urbanas).
Vale ressaltar que os pesquisadores admitem que a cooperação nas atividades domésticas é um fator importante ao desenvolvimento de meninas e meninos, no entanto, o que se viu pela pesquisa é a existência de uma sobrecarga dessas atividades, especialmente para as meninas. Em muitas famílias, desde cedo cabe a elas o papel de cuidadoras. Ganham bonecas e fogõezinhos para brincar e arrumam a própria cama ou lavam a louça enquanto os irmãos vão jogar bola. Quem já não ouviu a velha frase de que “cuidar da casa não é coisa de menino”?
Quando as mães dessas meninas trabalham fora, a sobrecarga aumenta, assumindo mais responsabilidades na casa e cuidando dos irmãos.
Há meninas que faltam às aulas ou deixam de fazer a tarefa de casa por conta dessas atividades que não são próprias ao seu desenvolvimento. Privá-las de uma rotina de estudos, além de tirar-lhes o direito ao brincar sadio e livre, só trará consequências negativas ao seu bem-estar presente e futuro.
Outros dados que preocupam, mapeados pela pesquisa: 13,7% das meninas de seis a catorze anos declararam que trabalham ou já trabalharam fora de casa; 2,3% afirmaram que estão procurando trabalho; 10,6% não quiseram responder a essa pergunta. Entre as meninas que trabalham, 37,4% afirmaram que fazem serviços domésticos na casa de outra pessoa.
Os pesquisadores perguntaram às meninas quem cuida delas no dia a dia. Algumas citaram mais de uma pessoa, mas o placar final foi de 76,3% para as respostas “mãe”, 26,8% para “pai” e 15,6% para “avó”. Ou seja, existe uma forte influência da cultura machista brasileira que acaba retirando do homem o direito de ser o cuidador.
Vale a pena conhecer a pesquisa completa, disponível para download gratuito no site da ONG. Com certeza ela suscitará ótimas reflexões no seu trabalho junto às famílias e à criança pequena.
 

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