As coisas não estão indo muito bem para quem é contra a adoção de crianças por casais gays no quesito argumentos. A ideia de que pais gays teriam dificuldade para desempenharem os papéis tradicionais de pai e de mãe está completamente errada, segundo um novo estudo publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
De acordo com o texto, os cérebros dos pais gays mudam da mesma forma que os dos seus colegas heterossexuais depois da paternidade. Os pesquisadores analisaram imagens do cérebro de pais tanto gays quanto heterossexuais, e descobriram que os homens homossexuais que adotaram crianças por meio de barriga de aluguel sofreram alterações em regiões do cérebro assim como mães e pais héteros.
Curiosamente, enquanto o estudo constatou que o cérebro de pais e mães heterossexuais de primeira viagem passam por diferentes mudanças, pais homossexuais passam por uma combinação dos dois, o que sugere que pais gays desempenham os dois papéis na paternidade.
Neurologicamente falando, pais gays são capazes de assumir o papel tanto de mãe quanto de pai, e reagir às atitudes da criança de acordo com isso.
O estudo foi realizado pelo pesquisador Eyal Abraham, da Universidade Bar-Ilan, em Israel, com a contribuição de Ruth Feldman, também da Bar-Ilan, e da professora Talma Hendler, do Centro Médico Sourasky, de Tel-Aviv. Os pesquisadores filmaram as novas mães e pais interagindo com seus bebês, e mediram a atividade cerebral dos pais enquanto eles reviam esses vídeos. As imagens revelaram que pais gays apresentaram atividade emocional na amígdala semelhante a novas mães, enquanto ao mesmo tempo exibiam aumento da ativação dos circuitos cognitivos que ocorreram nos cérebros dos novos pais heterossexuais.
“Os cérebros dos pais são muito maleáveis. Quando há dois pais, seus cérebros tendem a trabalhar nas duas frentes, na emocional e na cognitiva, para atingirem um nível ideal de paternidade”, explica Feldman.
Abraham acrescenta que esta é uma oportunidade de examinar possíveis desenvolvimentos na paternidade, dada a “reorganização da família tradicional, a redefinição dos papéis maternos e paternos” e o aumento do papel dos homens na educação dos filhos.
“Apesar do crescente envolvimento dos pais na criação das crianças, poucas pesquisas até agora têm examinado a base biológica da paternidade, e nenhum estudo examinou a base cerebral da paternidade humana quando os pais assumem a responsabilidade primária de cuidados com o bebê. As famílias de dois pais proporcionam um cenário único para avaliar as mudanças no cérebro do pai ao assumir o papel tradicionalmente ‘maternal’”, diz.
Falando sobre as implicações do estudo para unidades familiares não tradicionais, Abraham afirma que os resultados indicam que assumir o papel de um pai comprometido pode desencadear uma rede global de “cuidado paternal” no cérebro de homens e mulheres, tanto biológicos quanto não relacionados geneticamente com a criança. Em outras palavras, você não tem que ser a mãe biológica da criança para desenvolver boas competências paternais.
“Além disso, as descobertas descrevem o mecanismo de maleabilidade do cérebro com as experiências de cuidado em pais humanos. Enquanto apenas as mães passam pela gravidez, parto e lactação, a evolução criou outros caminhos para a adaptação do papel paternal nos homens, e esses caminhos alternativos vêm com a prática e com o cuidado no dia-a-dia”, fala.
Claro, todas essas descobertas são baseadas no envolvimento dos pais. “Os pais devem se envolver em atividades de cuidados infantis, porque este é o seu caminho para as mudanças cerebrais e a ligação com os filhos”, aponta Feldman. Quanto mais o cérebro é ativado por meio de prestação de cuidados, mais sensível se torna para as necessidades da criança.
“Quando as mães estão ao redor, a amígdala dos pais pode descansar, porque a mãe assume o papel de se preocupar com a cria. Quando as mães não estão por perto, o cérebro dos pais precisa assumir esta função”, explica a cientista.
As conclusões do estudo parecem reforçar o caso da paternidade homossexual, um tema de constante debate e alvo de preconceito. No Brasil, até pouco tempo atrás, a decisão ficava por conta da interpretação legal dos juízes que, quando concediam a adoção, faziam unicamente para indivíduos, e não para casais homossexuais. Com a regulamentação do casamento civil entre homossexuais em 2012, o processo ficou mais fácil. Perante a lei, pais homossexuais têm os mesmos direitos e devem apresentar as mesmas prerrogativas que os heterossexuais caso queiram adotar uma criança.
Os opositores do casamento gay e grupos anti-LGBT argumentam que a paternidade gay é ruim para as crianças, porque lhes dá uma vida familiar muito instável, não fornece uma educação saudável e as passa um sentimento de que não são normais. Mas este argumento é enfraquecido pelos próprios filhos de pais do mesmo sexo, sendo que muitos dos quais têm declarado não notar qualquer diferença no amor e cuidado dos pais.
E a ciência parece concordar. Na Austrália, os pesquisadores descobriram que ser criado por pais homossexuais não prejudica o desenvolvimento social das crianças, sua educação ou sua saúde emocional. Esta conclusão é corroborada por uma revisão de 2010 de pesquisas científicas sociais feita pelos sociólogos Judith Stacey, da Universidade de Nova York, e Tim Biblarz, da Universidade do Sul da Califórnia.
A ideia geral é resumida por Andrew J. Cherlin, sociólogo da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, também nos Estados Unidos: “A esmagadora evidência até agora é que não há muita diferença entre crianças criadas por pais heterossexuais ou homossexuais”.
Disponivel em: http://hypescience.com/pesquisa-mostra-que-o-cerebro-de-pais-gays-age-como-o-de-um-pai-e-o-de-uma-mae-ao-mesmo-tempo/
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