terça-feira, 7 de outubro de 2014

O Gênero criado e o Desejo imposto: a outra face

the-woman-inside-a-man-por-mehmeturgut
Vocês são convidados a familiarizar-se com a ideia de que a proporção em que masculino e feminino se misturam, no ser individual, está sujeita a consideráveis variações… A distinção não é psicológica; quando falam em “masculino” normalmente querem dizer “ativo”, e quando falam em “feminino”, “passivo”. É certo que existe esta relação. A célula sexual masculina move-se ativamente, procura àquela feminina, e esta, o óvulo, é imóvel, aguarda passivamente… mas com isso vocês reduzem, quanto à psicologia, o caráter do masculino ao fator da agressividade e seus afins. Terão dúvidas de haverem dado com algo essencial, se levaram em consideração que em algumas classes de animais as fêmeas são mais fortes e agressivas, e os machos são ativos apenas no único ato da união sexual… As mulheres podem despender grande atividade em diferentes áreas, e os homens não podem conviver com seus iguais se não desenvolverem um alto grau de passiva docilidade. (FREUD, 2013 [1933], p. 266 – 267)
Quando as ciências exatas, e suas grandes variações de aplicações estritas e calculáveis, serviram de modelo para os testes e resultados das ciências humanas, algo de óbvio impôs-se como resultado: a complexidade da vida humana, psíquica e social, não era facilmente passível de resultados tão exatos. Da segregação de jovens pelo sexo, da diferenciação infantil entre os impulsos até a conduta meramente imposta, estes são alguns poucos exemplos em que o suposto ficou assim considerado como um fato. Quando o assunto é gênero, a mistura de conceitos e nomes faz ruído: argumentos religiosos, argumentos biologizantes, quando, na verdade, a historicidade em que cada descoberta é feita contribui muito mais para a decisão de uma postura, ordem ou imposição, do que o bom senso tão faltoso nos “humanistas técnicos” que ao serem exatos em suas avaliações perdem de vista o fenômeno ímpar do psicológico.
Quando esses assuntos se misturam à Educação Infantil, o problema de ruidoso faz-se estrondoso. Ensinados, os seres humanos, a uma conduta que seria respectiva a tal sexo biológico, antes uma cela se coloca do que uma possiblidade de compreensão. Diante de tal ponto, “feminista”, “machista” e outros termos giram a balança da mesma questão:
Como ser uno ante a multiplicidade de formas e expressões da vida mental humana?
Quando a injúria e opressão recaem sobre grupos, antes, o que vemos é a injúria de si mesmo, apontada na direção de alguns que não puderam enquadrar-se na regra do “sentir e silenciar”. Não faltarão nomes e ditos. O fato é que a minoria na expressão o é somente em atividade explícita, todos nós temos a mistura de todos os fenômenos da vida psíquica, e sem si, somos todos “minorias”.
Sabe-se, que por detrás da face do imposto, há uma faceta inequívoca e inapreensível de cada um de nós: ela se chama Desejo. A palavra gênero já carrega sua conotação de diferenciação (no âmbito originário biológico) em espécies, famílias, reinos, e quando posta à frente do humano e tão somente humano Desejo, parece perder de vista seus critérios tão exatos… E não seria justamente a tentativa de paralelizar o desejo com o respectivo gênero a razão de uma visão extremamente preconceituosa, errônea e no mínimo, perigosa para todos nós?
santiago paulos androginia 2004 O Gênero criado e o Desejo imposto: a outra faceSer humano é carregar a marca da linguagem, a simbolização do mundo numa atmosfera infinita de significados e signos, de articulações da história de cada um. Quando as palavras masculino ou feminino tendem a abarcar os fenômenos dessa rede de complexidade, nada mais se poderia esperar: absolutamente ninguém, no limite, será enquadrado.
E justamente o que se faz essencial é tomado como suposto: gênero, molde, forma, são conteúdos há muito modificados e provavelmente ainda o serão ao longo da história da humanidade. Critérios necessários à mente científica humana servem mais como nomes para facilitar estudos do que a possiblidade de serem o mais adequado, ao menos a nível psicológico, social etc. O problema é que se negligencia justamente aquilo que em nós é inegociável e inabarcável: nosso Desejo.
Ser humano, dentre as infinitas e possíveis colocações e principalmente expressões, é ser constituído por esse movimento desejante, que migra de objeto em objeto, de relação em relação nesse mundo – antes simbólico que biológico. A emergência de tais problemáticas, atualmente, não se impõe apenas como estudos filosóficos, psicanalíticos ou acadêmicos, mas no limite, põe-se como um assunto de estatuto social. Cada vez que a educação se vincula a critérios estabelecidos do macho, ativo, homem e fêmea, passiva, mulher, todas as expressões de alteridade, expressões do mesmo ser humano que se manifestam por outro vieses, além de anômalos devem ser combativos.
laerte coutinho O Gênero criado e o Desejo imposto: a outra face
No fundo, a outra face de cada um é a mesma face de todos: humanos muito mais pela relação não natural (simbólica) que desenvolvem pelo mundo, pelos seus “semelhantes” e pela forma como situam a si mesmo nesse aglomerado de possiblidades. O desejo nos funda e nos constitui como o homem que não deseja apenas a caça, a reprodução e o repouso (como há muito bastou): queremos o inalcançável do dito, o desejo do outro, a fome de tudo o que é real e não se encontra no mundo da matéria.

Quando um gênero significa mais complicação sistemática do que resultado humano, cabe a cada um se ver como desejo e procurar manifestar-se na possiblidade da vida em conjunto, seja nas vestimentas, na fala, na possiblidade de ser único e pertencer, ainda assim, a unidade da espécie.
Gêneros são imposições de fora. Mas o nosso Desejo é a imposição de dentro. Ainda que as ciências “exatas”, como a neurobiologia, as ciências cognitivas (etc.) estejam mapeando os processos cerebrais e cada vez mais evidenciando certo paralelo entre “comportamento” e aparelho cerebral, ficará sempre a pergunta que possivelmente essas mesmas ciências não responderão:
Gênero criado ou um desejo humano auto-imposto: o que melhor o situa no mundo?
Responder a essa pergunta talvez seja um passo decisivo na compreensão do que seja o fenômeno misterioso da existência individual de cada um de nós.
Fábio Moreira Vargas tem 20 anos e mora na cidade de São Paulo. É estudante de Filosofia na Universidade de São Paulo com especial interesse pelo diálogo filosofia e psicanálise.

Campanhas da ONU

Unfe_image_798_full

Unfe_image_767_full



ONU lança manual sobre direitos LGBT no mundo do trabalho

Por meio de histórias reais de pessoas que sofreram discriminação no ambiente profissional, o manual oferece diretrizes para a promoção dos direitos humanos de pessoas LGBT no mundo do trabalho.Por meio de histórias reais de pessoas que sofreram discriminação no ambiente profissional, o manual oferece diretrizes para a promoção dos direitos humanos de pessoas LGBT no mundo do trabalho.
A Organização das Nações Unidas e seus parceiros no Brasil lançam nesta terça-feira (30/9), em São Paulo, o manualConstruindo a igualdade de oportunidades no mundo do trabalho: combatendo a homo-lesbo-transfobia.
O lançamento do manual faz parte também das ações da ONU no âmbito da campanha Livres e Iguais. O evento acontece no Instituto Carrefour, em São Paulo, a partir das 15h.
O manual foi construído de forma participativa com a colaboração das Nações Unidas e mais de 30 representantes de empregadores, trabalhadores, governo, sindicatos e movimentos sociais ligados aos temas LGBT e HIV/AIDS.
“Um trabalho decente é direito de todos os trabalhadores e trabalhadoras, bem como daqueles ou daquelas que estão em busca de trabalho, representando a garantia de uma atividade laboral em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana”, diz o manual em sua introdução.
O apoio à promoção dos direitos humanos é uma das principais missões das Nações Unidas no Brasil. Com isso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids (UNAIDS) – com apoio de parceiros locais – têm, com esta iniciativa, o objetivo de contribuir para a construção de um país livre de discriminação, onde todos os seres humanos gozem de respeito e tenham seus direitos assegurados.
Laís Abramo, diretora da OIT no Brasil, e Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour, farão a abertura da cerimônia. Durante o evento, algumas empresas e iniciativas anunciarão oficialmente o compromisso com a adoção do manual e com a promoção dos direitos humanos de pessoas LGBT em seus ambientes de trabalho.
Uma mesa de diálogo durante o evento contará com as presenças de: Rogério Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, representando o governo; Renata Seabra, secretária executiva da Rede Brasileira do Pacto Global, representando os mais de 600 signatários da iniciativa no Brasil; Carlos Magno Silva Fonseca, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), representando o movimento LGBT; Adriana Ferreira, líder de Diversidade & Inclusão da IBM Brasil, representando o Fórum de Empresas e Direitos LGBT; Camilo Arabe, presidente da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas; entre outras lideranças. A apresentação do manual ficará a cargo de Beto de Jesus, Reinaldo Bulgarelli e Bruna Douek, da Txai Consultoria e Educação, parceira da ONU na elaboração deste manual.
Sobre a Campanha Livres & Iguais
Partindo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidades e direitos, a campanha Livres & Iguais é uma iniciativa global das Nações Unidas cujo objetivo é promover a igualdade e os direitos humanos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis (LGBT).
O projeto é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), implementado em parceria com a Fundação Purpose. A campanha tem o objetivo de aumentar a conscientização sobre a violência e a discriminação homo-lesbo-transfóbica, além de promover maior respeito pelos direitos das pessoas LGBT por todo o mundo.
No Brasil, a inciativa lançada em abril deste ano – sob a responsabilidade do Escritório de Coordenação doSistema ONU no Brasil – é fruto de uma ação conjunta de diversos organismos da ONU (PNUD, ACNUDH, UNICEF, UNESCO, UNAIDS, UNFPA, OIT, ONU Mulheres e UNIC Rio) e diferentes parceiros como governos, empresas, artistas e sociedade civil organizada.
Acompanhe mais notícias sobre as ações da ONU na área de direitos LGBT em:
Twitter @ONUBrasil e no Facebook ONUBrasil  E também pela página oficial da Campanha Livres & Iguais: www.unfe.org/pt

Nigeriano cria bonecas negras contra preconceito e supera venda de Barbie


A Nigéria é o país com a maior população negra do mundo. Mesmo assim, quando o nigeriano Taofick Okoya foi comprar um presente de aniversário para sua sobrinha, em 2006, só achou bonecas brancas nas lojas.
Foi então que o empresário de 44 anos, que na época era diretor-executivo da empresa familiar de utensílios de plástico, teve a ideia de fabricar bonecas que fossem da cor da imensa maioria das crianças de seu país.
Surgiu, assim, a Queens of Africa ("rainhas da África"), uma empresa que hoje já vende mais bonecas na Nigéria do que a famosa Barbie.
O nigeriano Taofick Okoya, criador da marca de bonecas negras (Foto: Taofick Okoya/Arquivo pessoal)“A ideia é promover a autoaceitação e a confiança nas crianças africanas e nigerianas. Queria que elas gostassem de si mesmas e de sua raça. Percebi que a superexposição a bonecas e personagens brancos fazia com que elas desejassem ser brancas”, disse Okoya.
Ele conta que teve um exemplo disso em sua própria casa, em uma conversa com sua filha, quando ela tinha 3 anos de idade. “Os personagens preferidos dela eram todos brancos, as bonecas, também. Um dia ela me perguntou: ‘de que cor eu sou?’. Disse que ela é negra e ela falou que preferiria ser branca. Tive que explicar que há tipos diferentes de pessoas e culturas no mundo, que não somos todos iguais, e que negro também é bonito”, diz ele.

Resistência


A Queens of Africa fabrica seis modelos de bonecas, que representam os três maiores grupos étnicos da Nigéria: Hausa, Igbo e Yoruba. Os cabelos e as roupas se baseiam em looks de mulheres africanas.
Criança em frente a caixas com as bonecas (Foto: Queens of Africa/Divulgação)A marca enfrentou resistência no início. Segundo Okoya, os nigerianos não estavam acostumados a ver bonecas negras e as crianças preferiam as brancas.
Além da barreira cultural, havia a barreira econômica. “Bonecas são vistas como algo elitista na Nigéria, porque costumam ser caras”, diz o empresário. A solução foi criar produtos com várias faixas de preço: a boneca mais barata, chamada Princesa Naija, é vendida pelo equivalente a US$ 5 (cerca de R$ 11).
Depois de “muitos altos e baixos”, a Queens of Africa emplacou. Em média, são fabricadas cerca de 24 mil unidades por mês – o número sobe nos períodos festivos, como Natal e Dia das Crianças.

Brasil

O preço das bonecas começa em US$ 5 (Foto: Queens of Africa/Divulgação)Bonecas usam roupas típicas (Foto: Queens of Africa/Divulgação)
Por enquanto, as bonecas só são vendidas na Nigéria, mas Okoya pretende mudar isso logo. Segundo ele, até o fim do ano a marca fará vendas online. Ele diz tambem que há empresas de outros países da África, da Europa e dos Estados Unidos interessadas em revender os produtos.
Percebi que a superexposição a bonecas e personagens brancos fazia com que as crianças nigerianas desejassem ser brancas"
Taofick Okoya
No perfil da marca no Facebook, uma mensagem em inglês e em português diz que as bonecas chegarão em breve ao mercado brasileiro. Okoya afirma que está em negociação com uma pessoa que venderia or produtos no Brasil em pequena escala – ele não revela o nome. “Quero enviar o primeiro pedido neste mês”, diz.
No mercado brasileiro, as bonecas negras são minoria, mas alguns modelos podem ser encontrados em lojas de brinquedos.
Segundo Okoya, a aceitação das bonecas na Nigéria melhorou muito com o tempo. Ele defende que as crianças sejam expostas à diversidade nas brincadeiras. "Elas têm que aprender a apreciar e a aceitar as diferenças sem perder sua própria identidade. É triste que elas cresçam com esse sentimento de insegurança, querendo ser outra pessoa”, completa.

Bonecas da Queens of Africa (Foto: Queens of Africa/Divulgação)Bonecas da Queens of Africa (Foto: Queens of Africa/Divulgação)

Feminismo em cordel

pág 13 - 660x390_1
Jarid Arraes é jornalista, tem 23 anos, e nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará. Filha e neta de cordelistas, desde muito pequena escrevia, cercada pela poesia e cultura popular nordestina. “Mas eu também percebia que a maioria das histórias que lia em cordel eram cheias de estereótipos, machismo, racismo, homofobia e deboche contra grupos marginalizados. Isso acontece porque o cordel é escrito por pessoas comuns e todos esses tipos de discriminação são altamente disseminados e aceitos na nossa sociedade”, afirma Jarid.

Foi a partir dessa crítica à realidade que a cearense decidiu criar a literatura de cordel feminista, com temáticas que abordam, por exemplo, questões de gênero, transfobia, preconceito racial e abuso sexual.
Hoje, Jarid tem dez livros publicados. As histórias – como manda a tradição cordelista – são todas baseadas em situações verídicas. Um dos títulos é “Dora: a negra e feminista”, que narra o processo de compreensão do feminismo por uma negra a partir da ajuda de outras mulheres, e a necessidade de cotas raciais em universidades. Outro, “A menina que não queria ser princesa”, é destinado às crianças e procura desconstruir o que chamamos de “coisas de menino” e “coisas de menina”. “As meninas são relacionadas ao ambiente doméstico e assuntos de beleza, enquanto os meninos podem brincar com tudo que é do mundo exterior. Isso é nocivo, naturaliza o machismo e impede que as crianças sejam quem elas têm potencial real para ser”, declara a escritora.
Mesmo que não direcionadas a alguém real, as rimas presentes nos livros retratam o cotidiano da mulher em uma sociedade machista. “Grande parte das coisas que me incomodavam no mundo partem de pressupostos que desvalorizam e trazem imposições ao comportamento feminino. Enxergar isso me trouxe empoderamento e eu decidi militar, porque quero levar essa conscientização para mais pessoas”, diz Jarid.
Para conhecer e adquirir os livros da jornalista, acesse o site www.jaridarraes.com.

E por falar em discursos políticos!

Foto: Liberdade de expressão é o direito de manifestar livremente opiniões e ideias. Entretanto, o exercício dessa liberdade não deve afrontar o direito alheio, como a honra e a dignidade de uma pessoa ou determinado grupo. O discurso do ódio é uma manifestação preconceituosa contra minorias étnicas, sociais, religiosas e culturais, que gera conflitos com outros valores assegurados pela Constituição, como a dignidade da pessoa humana. O nosso limite é respeitar o direito do outro.

Indignado, empresário divulga mensagens contra homofobia em sacos de pão


Indignado, empresário divulga mensagens contra homofobia em sacos de pão
Em Curitiba, o dono de uma padaria decidiu abraçar a causa dos homossexuais e lutar com eles contra o preconceito. Casado e pai de seis filhos, Aderson Arendt ilustrou nos sacos de pão a mensagem “Homofobia é crime. Direitos iguais é inclusão social. Homossexualidade não é doença. A Homofobia, sim!”. As frases também foram estampadas em um painel luminoso do estabelecimento.
Arendt conta que tomou a iniciativa ao perceber o comportamento discriminatório de algumas pessoas dentro e fora da padaria. Incomodado, resolveu fazer algo para ajudar a mudar essa situação e garante que a maioria dos clientes aprovou a ideia. E ele diz não ter medo de perder clientela, já que prefere que os homofóbicos nem entrem no local.
Nesta primeira etapa da campanha, foram impressas mensagens em 500 mil pacotes. Um levantamento divulgado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mostra que, no Brasil, mais de um homossexual tem seus direitos violados a cada hora. Os dados também apontam que a cada 20 horas um gay é morto no país.

Carrefour cria Guia da Diversidade e proíbe a homofobia, inclusive por motivo religioso

Os funcionários da empresa francesa de supermercados Carrefour no Brasil receberam este ano a cartilha Guia da Diversidade, com perguntas e respostas com objetivo da inclusão do tema LGBT entre seus colaboradores, onde há o capítulo “Como tratar pessoas LGBTs”. A empresa aderiu ao grupo que apoiou a cartilha da ONU “Construindo a igualdade de oportunidades no mundo do trabalho: combatendo a homo-lesbo-transfobia”, lançada esta semana, no Instituto Carrefour, e mostra que já está fazendo o dever de casa.
“Duas pessoas do mesmo sexo podem beijar em público?” questiona o material didático interno que responde e ensina que o mesmo direito dado aos casais heterossexuais é dado aos casais gays e lembra que são famílias, pois o casamento gay é reconhecido no Brasil, e que estes podem se expressar afetivamente em público. Sobre interferência em caso de abuso, o documento diz que só é permitido em caso de sexo ou obscenidades, como diz a lei, caso contrário o funcionário não estará seguindo as normas da empresa se interromper uma simples manifestação de afeto.
O manual ainda questiona a questão das transexuais e afirma que elas podem trabalhar na empresa, que devem ser chamadas pelo nome social, por respeito, inclusive em crachás, e merecem o melhor tratamento, seja funcionária ou cliente, e que a pessoa utilizará o banheiro referente ao gênero que se identificar e optar ser tratado.
O documento fala ainda que a homofobia é inaceitável para o Carrefour e que o funcionário que por motivo religioso não se sentir confortável deve, mesmo assim, aderir às normas da empresa e praticar o respeito em qualquer situação.
Em setembro de 2006, duas transexuais foram alvo de chacotas por funcionário da empresa em uma unidade em São Paulo e foram indenizadas em R$15 mil. Outro caso em Piracicaba, no ano seguinte, um gay acusou seguranças de homofobia. Uma ex caixa da rede chamada de "sapatona" pelas colegas de trabalho recebeu R$15 mil de indenização no ano passado.

Filho trans


Marcelo Tas sobre filho transexual: “Faço parte da safra de pais que soube tratar com naturalidade a questão”

6czwnlc2nz_7y9nk2adx3_file

Em entrevista à revista Crescer, apresentador contou como foi lidar com a transformação
Marcelo Tas falou pela primeira vez sobre a relação com o filho transexual. Em entrevista à revista Crescer de outubro, o apresentador contou como foi ver Luiza se transformar em Luc, hoje com 25 anos, feliz e casado com outro transexual.
Na entrevista, Tas destaca que as preferências do filho nunca estiveram acima da relação dos dois.
— Uma novidade desse tamanho sempre é surpreendente. Antes de tudo, devemos admitir que independente da orientação — hetero, homo, trans, bi… — a sexualidade é um assunto que desafia e intriga os seres humanos desde que o mundo é mundo. Por outro lado, creio que eu faça parte talvez de uma primeira safra de pais que souberam acolher e tratar com mais naturalidade a questão de forma transparente.
Luc se assumiu bissexual aos 15 anos. Com 22, virou transexual. Hoje, mora nos Estados Unidos e trabalha como advogado. O jovem revela que nunca se sentiu desamparado em casa.
— Sou muito sortudo. A realidade é que minha família sempre me apoiou em tudo. Eu contei que era bi quando ainda era muito novo, e eles nem piscaram. Quanto a eu ser trans, acredito que foi um pouco mais difícil, tanto para mim quanto para eles. (…) Hoje em dia, eles sempre usam os pronomes certos para se referir a mim (ele/dele, etc.) e meu nome (Luc).
O tempo todo, pai e filho falam um do outro com admiração e respeito. Tas fala que o filho sempre foi muito decidido.
— Lembro que no casamento do meu irmão, Luc tinha uns 2 ou 3 anos e devia ser a “dama” de honra. Deu um escândalo tão grande porque não queria botar o vestido. Foi de fraldas até a cerimônia e só resolveu vestir a roupa já no altar. Acabou curtindo a experiência. Não estou dizendo que ali já pressentia uma questão de gênero, mas sim que via nele um ser bastante decidido sobre o que queria ou não fazer.
Tas também é pai de Miguel e Clarice, de 13 e 9 anos, frutos do casamento com a atriz Bel Kowarick. Segundo o apresentador, as crianças foram exemplares ao saberem da decisão do irmão.
— Miguel e Clarice nos deram uma aula de como conduzir o assunto. Para eles foi algo natural. Lembro que Bel e eu criamos uma atmosfera solene para comunicar o fato dentro de casa. Clarice na hora rebateu que ela sempre percebeu que o Luc não gostava de usar roupas femininas e que tinha certeza de que ele estava fazendo a coisa certa. E ela concluiu com uma tirada incrível: “E a gente só tem que fazer uma coisa, passar a chamar ela de ele. Só isso!”. Eu fico surpreso e até esperançoso de ver como as crianças nos ensinam a tratar assuntos aparentemente espinhosos e complicados de uma forma generosa e elevada.
O apresentador finaliza a entrevista destacando que os pais nunca devem perder o foco do relacionamento familiar.
— As questões de sexualidade e gênero são importantes. Mas não são mais importantes do que o amor incondicional que devemos manter na nossa família. Este sim é o assunto mais importante da nossa vida.
Fonte: R7