quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Cinco mitos sobre assexualidade; confira!

A quadrinista assexual Adri publicou, em seu tumblr, tirinhas que explicam o que é a assexualidade e rebatem cinco mitos difundidos sobre ela. Abaixo, você confere a versão em português dos quadrinhos, traduzidas pela equipe do site LadoBi.
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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”


Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”

Mesmo enfrentando preconceito e incompreensão fora de casa, o adolescente teve apoio total da família para assumir gênero oposto ao de nascimento

“Mãe, tirei zero na prova de História porque escrevi o meu nome social e não o de registro. A professora disse que eu tinha rasurado”. Em seu primeiro contato com a reportagem do iGay, o menino Arthur Fernandes Alves já chega contando o problema pelo qual passou na escola. A situação exemplifica o tipo de percalço enfrentado por um menino transexual de 13 anos de idade, que vive em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Apesar de incomodar, um problema como esse não abate Arthur. Com seus cabelos azuis e camisa preta de banda, ele é um adolescente como muitos outros, cheio de paixões e aspirações. Além dos HQs de mangás orientais, o jovem se diverte ouvindo bandas como Green Day e My Chemical Romance.
Cabeleireiro e tatuador são as profissões que Arthur pensa seguir quando for adulto. Cursando o oitavo ano do ensino fundamental, ele aprendeu inglês e japonês estudando por conta própria em casa.
Nascido menina, Arthur se percebeu diferente já aos quatro anos de idade. “Sempre gostei de andar com os meninos, o melhor presente que ganhei na minha vida foi uma pista de carrinhos”, revela o adolescente, que teve a sorte de vir ao mundo num ambiente livre de preconceitos. A mãe, Juliana da Silva Fernandes, é uma bióloga de 36 anos. Psicólogo de formação, o pai, Fabrício Alves, tem 37 e trabalha como bancário.
Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”
“Nós víamos que ele não gostava de boneca, de coisas cor-de-rosa. Aí eu dizia para quem quisesse dar presente que desse roupa para ele”, conta Juliana. No entanto, o apoio dos pais não evitou que Arthur enfrentasse o preconceito quando tinha sete anos. Na época, ele cortou os cabelos bem curtos e passou a sofrer agressões repetidas de uma colega de escola. “Ela me batia e falava que menina tinha que gostar de rosa e ter cabelo comprido”, relata o adolescente, sem disfarçar a tristeza.
Juliana lembra que este momento marcou o início de uma fase de isolamento do filho. “A partir daí, ele foi ficando introspectivo. Com doze anos, já não falava com ninguém. Começou a se cortar nos braços e falava que tinha um grande segredo”, narra a mãe, que decidiu então, juntamente com o marido, procurar ajuda de um psicólogo.

CONVERSA DEFINITIVA

Mesmo com acompanhamento psicológico, Arthur não conseguiu se abrir e revelar o que o afligia. Juliana viu que era o caso de ter uma conversa definitiva com o filho. “Foi mais de uma hora conversando. Quando ele me falou que o segredo era a identidade de gênero, fiquei aliviada. Eu tinha medo que fosse algo ruim, que ele tivesse sido abusado sexualmente”, explica ela, que àquela altura já tinha procurado a ajuda de três profissionais diferentes. “Nenhum deles explicava nada, falavam que era fruto da separação temporária que eu e o pai do Arthur tivemos. Mas a gente sabia que não era.”

Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”
O alívio proporcionado pela conversa foi tamanho que o adolescente saiu do quarto sem o nome feminino com o qual foi batizado. Inspirado no vocalista do My Chemical Romance,Gerard Arthur Way, ele escolheu ser chamado de Arthur.
Assumindo a identidade masculina, Arthur mudou o guarda-roupa, adotou camisetas de banda como seu uniforme e passou a usar uma faixa elástica para esconder os seios. “Minhas amigas usam dois sutiãs para ter peitos e eu um colete e duas camisetas para não ter”, ironiza o adolescente, que mudou também de nome nas redes sociais.
“Foi tudo muito tranquilo, os irmãos dele me corrigiam no começo porque eu continuava chamando pelo nome antigo sem querer”, admite Juliana, que divide a compreensão serena da transexualidade de Arthur com o marido. “Ele é meu filho e vai ser sempre amado, não tem porque não ser assim”, afirma Fabrício.
O pai se incomoda apenas com a incompreensão de muitas pessoas com assunto. “Queremos valer o que é de direito do Arthur. Alguns funcionários e professores se recusam a chamar o Arthur pelo nome, mesmo com a lei que os obriga, então queremos tentar fazer a alteração do nome nos documentos”, argumenta Fabrício, referindo-se à lei estadual paulista 10.948/01, que pune atos de homofobia e obriga estabelecimentos e instituições a respeitar o nome social dos transexuais.

FALTA INFORMAÇÃO E PREPARO

Fabricio, Juliana e Arthur percebem a falta de conhecimento como fator desencadeador do preconceito. “Só encontramos informações muito fragmentadas em blogs, sites e poucos livros. E o que há disponível não fala sobre os transgêneros nesta idade”, reclama a mãe.
O pai vai além e aponta o despreparo do Sistema Único de Saúde para lidar com a questão. “O SUS em tese cobre a cirurgia de adequação de gênero, mas os postos de saúde não têm ideia do que se trata. Os programas de atendimento ficam concentrados em São Paulo.”
Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”
Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”“Eu sei que é difícil para todos os transexuais. Mas para mim, às vezes, parece pior. Porque ninguém me leva a sério, acham que só quero chamar atenção”, desabafa Arthur, que sente o preconceito em atos prosaicos como a ida ao banheiro da escola. O adolescente usa o toalete dos professores, por não se sentir confortável em usar o dos meninos.
“Apesar de mais aberta ao debate, a escola tem algumas limitações. A diretora é ótima, muitos professores respeitam. Mas tivemos que abrir algumas concessões, como a questão do banheiro, mas vamos resolver”, pondera Juliana. Arthur faz questão de ressaltar, no entanto, que recebe muito apoio dos colegas.
“Sempre que um professor me trata de maneira errada, meus amigos corrigem. Meu namorado também não tem problemas com a questão. Sei que tenho muita sorte pela minha família que me aceita”, constata Arthur, exibindo uma maturidade pouco comum a meninos de sua idade.
O namorado de Arthur tem o carinho de toda a família. “Ele é um amor, não tenho do que reclamar. Infelizmente, temos tido alguns problemas com a família dele, mas nem todo mundo lida bem. Com o Arthur, a gente sabe que tem um preconceito duplo, porque além de transexual, ele é gay”, se resigna a mãe.
Vem da bisavó do jovem de cabelos azuis o argumento para desfazer a incompreensão com o diferente. “Minha avó de 85 anos, que é bisa do Arthur, disse uma única coisa sobre o assunto: ‘Menino ou menina, o amor é o mesmo’”, relata Juliana. Quem passa algum tempo com a família Fernandes Alves não tem dúvida disso.

Reconhecimento do “Gênero Neutro” é a tendência em países desenvolvidos

Há alguns anos quando a Índia reconheceu o terceiro sexo e quando a Austrália passou a não cobrar mais o preenchimento do gênero de forma binária, masculino ou feminino, e criou o gênero não definido em seus formulários, era perceptível que o mundo avançava para uma discussão sobre a aceitação da identidade de gênero individual. Apesar da sociedade querer separar as pessoas em grupos distintos, há pessoas que não se sentem confortáveis com estas definições e tivemos recentemente dois casos claros de soluções que devem dar exemplo de como as autoridades podem tratar o gênero neutro ou identidades de gênero fora do padrão imposto.
 
Na França, pela primeira vez, uma pessoa intersexual de 64 anos ganhou na Justiça o direito de que fosse alterada e inclusa em sua certidão de nascimento a descrição “gênero neutro”. Antes identificado como do sexo masculino, a pessoa não possui aparelho reprodutivo completo, tendo características dos dois sexos (hermafroditismo) e não se identifica com nenhum dos gêneros, casos anatômicos raros chamados de intersexo pela medicina. Normalmente uma criança intersexual sofre mutilação ao nascer onde o médico ou pais definem o sexo do bebê, ou passam a vida sem saber porque se sentem diferentes. Hoje, a genética identifica pelos cromossomos o sexo do material genético como XX ou XY, mas nada tem a ver com a definição da psique do indivíduo. O direito a sua identidade de gênero não definida foi garantida pelo tribunal de Tours no final de agosto que ordenou a alteração para o caso peculiar.

"O sexo que o foi atribuído no nascimento aparece como pura ficção imposta durante toda sua existência", decretou o juiz. "Não se trata de reconhecer a existência de um 'terceiro gênero' mas de reconhecer a impossibilidade de atribuir um determinado gênero a esta pessoa", acrescentou o magistrado. Ainda cabe recurso da decisão.
 
Já na Suécia, um pronome neutro utilizado pela comunidade transexual do país desde a década de 60 foi incluído na revisão do dicionário oficial este ano. Hen faz a mesma função de han (ela) e Hon (ele), segundo as novas normas cultas da língua sueca que é revisada a cada década. O termo já é encontrado na imprensa, decisões judiciais e até em livros, como forma de abrandar a importância do gênero dos pronomes pessoais.